Thursday, November 30, 2006

Minha via sacra pelas religiões afora e o ateísmo - Parte 1

Resolvi escrever uma série onde vou contar todo meu caminho para encontrar deus até chegar definitivamente ao ateísmo. Não acreditar em deus não te faz uma pessoa sem perspectiva ou sem sonhos. Não te faz uma pessoa pior ou melhor. Não acreditar em deus não significa que você tenha certeza da não existência, e tem horas que você duvida até de suas próprias certezas. Acredito que o mistério da vida esteja simplesmente no momento.
Como na física, tudo depende do ponto de vista. Na vida também. Não acredito em deus porque ele nunca está comigo. Mas acredito na minha eternidade. O fim do mundo e do universo é quando chegar o meu fim. Se eu deixar de existir, tudo deixa de existir.
Então, vocês já viram que sou absolutamente maluca. Não vale a pena tentar me mudar. Vou começar a minha história religiosa, desde a infância.
Minha mãe veio de uma família espírita. Seu pai era muito religioso e moralista. Fazia os filhos frequentarem o centro espírita toda semana e era extremamente radical quando se falava em outras religiões. Para ele todos os outros eram uns idiotas que não enxergavam a verdade.
Já na família do meu pai eram católicos. Meu avô paterno, que faleceu em 2001, era papa óstia. Vivia na igreja e até depois de seus dois derrames, não 'faltava' à missa. Quando pequena, dormia na casa de meus avós em Formiga, escutava, seis horas da manhã, os passos arrastados de meu avó para ir rezar. Ele arrastava uma perna por causa do derrame. Minha bisavó, essa morreu em 92, era protestante. Então havia uma rixa entre ela e o genro. Mal se falavam. Mas quando ela perdeu a lucidez, ele fazia brincadeiras e dizia a ela que estava procurando uma noiva, que era cheio da grana e tal. E ela caía, tadinha, e queria me arrumar pro meu avô, pode?
Bom, a lei da ação e reação é cruel, meus caros amigos. Meu avó, aos 80 anos, já estava caducando. Um dia cheguei em sua casa e ele me disse: "Menina, você tem que ver como o dono dessa casa é bom. Um colosso! Ele deixa eu morar aqui, coloca gente pra cuidar de mim e não me cobra nem o aluguel, nem nada". De fato a vida é cruel. Morreu esclerosado como a sogra, de quem ele zombava tanto. Por que estou contando essa história e o que tem a ver com religião? Bom, estou apenas dizendo que a religião não importa, somos todos iguais, farinha do mesmo saco, com nossas mesquinharias, manias de grandeza e de achar que somos melhores que os outros.
Ah, é importante dizer que, por causa das brigas de família, meu pai tornou-se areligioso. Por ver os padres saindo com as mulheres e tendo famílias escondidas. Por ver o dinheiro rolando solto. Por tudo isso, preferiu não ter religião.
Foi então, com meus 5/6 anos que tenho a primeira lembrança de uma missa. Foi uma desilusão. Era dia das crianças e meu avó Ju me chamou para a missa:
- Vamos, será ótimo! Hoje é dia das crianças e terá muitos bichinhos dentro da igreja: passarinhos, coelhinhos, cachorros e tudo mais.
- E pode pegar, vovô?
- Pode!
Fui com a idéia de que a igreja estaria infestada de bichos e que eu poderia carregar e brincar com um monte deles.
Quando cheguei lá me lembro de uma experiência muito desagradável. Não lembro direito, mas acho que os bichinhos apenas entraram com algumas crianças que o padre chamou. E eu pensando em brincar com minhas primas e o tempo que estava perdendo ali. Formiga pra mim tinha seu principal objetivo: brincar, brincar e brincar com minhas primas.

E foi aí minha primeira, não única, desilusão religiosa.

Amém

1 comment:

Don Rodrigone said...

é... dá um belo livro toda essa vida religiosa! a minha já é mais simples... cresci são-paulino e minha fé passou por algumas provações... mas voltou com força total nos últimos anos, ainda mais quando Mineiro, o grande messias, chegou entre nós.


beijo!