Thursday, December 30, 2004

A MÚSICA EM PESSOA

Ganhei um CD do meu pai com algumas poesias de Fernando Pessoa. Claro que adorei, aqui vai uma delas, me identifiquei muito com ela!

“Cruzou por Mim, Veio Ter Comigo, Numa Rua da Baixa”
Poema de Álvaro de Campos

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa
Rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por
Profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo
Com ele;
E reciprocamente, num gesto largo,
Transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na
algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo,
Aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...),

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
As normas reais ou sentimentais da vida
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça ou capitão da cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque
têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma
razão exterior para ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter de pedir aos dias que passem, e nos
deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um
Dostoiévsi ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é,
No sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande
Caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas
(autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que
Tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha
Olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com
Quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são
Vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num
Comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter
Opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma:
Sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção:
Sou lúcido

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Friday, December 24, 2004

Tempo de Esperança!

O que é o Natal? Quando eu era pequena nem ligava Natal a Jesus Cristo, claro que sabia que era a data de seu nascimento, mas dava importância mesmo era aos presentes que recebia e que sabia que não vinham do Papai Noel e sim de meus pais. Sempre fui de certa forma cética, mas acho muito bonita a imagem de Nossa Senhora segurando seu filho, acho lindo o presépio e admiro a fé das pessoas. Gostaria realmente de acreditar, de passar o Natal rezando, de ter a esperança de um mundo melhor.
A verdade é que nem sei porque resolvi escrever esse texto, de certa forma, melancólico. Talvez porque ontem fui distribuir comida na rua e encontrei um morador de rua muito interessante, talvez por saudades de minha avó, talvez por saudades de minha infância/ presentes. Sei que o Natal significava algo pra mim, e hoje acho um dia chato, uma reunião pra se comer e beber sem fundamento religioso, sem amor ao próximo. Queria passar o Natal junto às pessoas que quero ajudar.
Quando era pequena eu adorava passar o Natal em Formiga, era mágico, único, havia muitos presentes, muita comida gostosa, o cheiro da minha avó... doces, meus primos, música, piano, meus pais, minha irmã, cheiro de moranguinho, Barbie, jogos, brincar de cabra cega, sonhos, peteca, piscina, lagoa, bicicleta, sorvete...
Lembro que uma vez, na escola, que um menino me disse que certa vez viu o Papai Noel voando no céu em seu trenó. Eu disse que ele era um idiota, que além de acreditar em Papai Noel ainda inventava mentiras a respeito, que ninguém podia voar num trenó guiado por veadinhos. Eu era chata desde então, com meu raciocínio questionador, meu radar anti-mentiras. A professora quase teve um colapso, o menino chorou, a diretora interviu:
- Claro que o Papai Noel existe! Quem te disse que ele não existe?
- Minha mãe! E ela não mente pra mim, ela disse que não gosta de ver as crianças enganadas achando que ele exista, que isso é uma bobagem! Ela compra os presentes pra mim e coloca na árvore de Natal antes mesmo do dia certo, pra enfeitar. Se duvidar, pergunte a ela...
Estava feita minha fama de chata, inconveniente, questionadora e destruidora de ilusões. Desde então fiz jus ao que diziam de mim, no colégio defendia os mais fracos, em casa ensinava minha mãe, na faculdade odiava todos que eram óbvios, pois achava que nada era mais questionador que estar na faculdade, mentes brilhantes pra raciocinar matematicamente conseguem, na maioria das vezes, ser mais careta que meu avô de 95 anos.
Talvez, se Papai Noel existisse, pediria a ele que tirasse a pessoa que conheci ontem da rua. Que ele conseguisse largar a droga, fazer teatro (que é seu sonho) e fazer sucesso.
Estava eu distribuindo sopa na rua quando me aparece um sujeito bem arrumado e bonito, era negro e alto, e ele nos abordou:
- Boa noite! Como vão? Aqui, se vocês encontrarem por aí uma esmeralda de um milhão e trezentos mil reais vocês devolvem pra mim? É que perdi a minha...
- Claro que devolvo, respondi...
- Devolve mesmo? Tá bom viu! Acredito. Sabe quando eu devolveria? Nunca!
- Mas você deve ser honesto com as pessoas.
- Honestidade? E o que você sabe sobre honestidade? O mundo não foi honesto comigo, não serei honesto...
- Pois eu sou honesta, se não precisei até hoje desse dinheiro, não vou precisar. Talvez você devolvesse e pedisse ao dono da esmeralda um lar, um emprego, uma nova vida.
- Mas com esse dinheiro faria o que quisesse, não precisaria de nada disso, nem de ser honesto.
Não disse mais nada sobre o assunto, não vivi o que ele viveu, não sofri o que ele sofreu... Não condenaria uma pessoa nessas condições, quem sou eu pra fazer isso?
- Você é pagodeiro?
- Não! Ah, por que todo mundo me pergunta isso?
- Porque você parece um deles, hahahaha!
- Você acha isso também? – perguntou pra minha amiga, Bárbara
- Tô fora dessa discussão!
Gerou um certo mal estar, todo mundo achou que ele não gostou, mas nem liguei.
Mudamos a conversa, ele é uma pessoa muito agradável, muito conversadora, mas o desagradável é a tal “buchinha” imersa em tíner, sempre em suas mãos, o cheiro forte e ruim. Perguntei a ele como fora parar na rua, nesse momento uma chuva fraca e contínua caía sobre nossas cabeças:
- Ai, meu São Pedro, não me faça mentir, pelo menos dessa vez... Perdi meus pais muito cedo, aos 12 anos, morava no interior de Minas, e tinha muitos irmãos. Os mais velhos sentiram-se mais donos das coisas que os mais novos e nos deixaram em desvantagem. Cansei daquilo e fugi de casa, vim pra cá e moro na rua desde os 13 anos.
Achei muito estranho, acho que ele não mora na rua, pois a maioria dos moradores de rua são sujos e mal vestidos, ele não tinha uma aparência de sujo, apesar de seu cheiro desagradável, e não estava tão degradado como a maioria deles, parece que ainda tinha uma identidade. Conversamos muito, ele disse a minha amiga que ela era a esmeralda que ele havia perdido. Disse que no dia em que fizesse sucesso ele agradeceria às pessoas que tiraram ele daquele estado, eu, a Bárbara e meu namorado.
- Aqui, se você achar a esmeralda nós iremos atrás de você, tá? - disse
- Aí você quer, né? Espertinha você, hein?
- Você deveria fazer teatro – disse a Bárbara
- Você acha isso mesmo?
- Acho! Claro!
- Eu também acho, mas você tem que largar isso aí. – apontei para a droga
- Ai, eu não queria que vocês vissem isso, me deu vontade de chorar agora, eu não sei, sabe...
- Olha, você é uma pessoa legal, interessante, que tem uma grande chance de um dia sair dessa se quiser. Mas se continuar usando droga vai acabar perdendo sua identidade
- De novo? A minha já é segunda via...
(risos)
- Não estou falando dessa identidade...
- Acabou a comida, vamos embora! – gritou alguém de dentro da Combi.
- Tchau, depois a gente se encontra...
Fomos embora, mas um pedaço do meu coração ficou...

Feliz Natal a todos!

Thursday, December 23, 2004

Missa de Corpo Presente

Saí correndo quando recebi a notícia. Cheguei à missa de corpo presente, a primeira e única que já fui, e fui procurando lugar. A igreja era muito bonita e ao mesmo tempo igual a todas as outras. Sentei bem atrás e com o olhar busquei a Paula, ela estava junto com a família, chorando a morte do avô. Algo que não entendi foi que ao entrar na igreja as pessoas cantavam uma música e levantavam o morto que, naquele instante, era uma mulher. Ao olhar pra falecida vi sua boca balbuciar partes da letra da música.
Entrei na igreja sem saber o que estava acontecendo, não sabia quem tinha morrido, fiquei muito sem graça ao descobrir que era o avô da Paula, fiquei sem jeito para chegar e abraçá-la. Pode parecer estranho mas na hora achei ridículo, achei que era bobagem chorar por esse motivo, que não tinha nada a ver.
Sentei ao fundo da igreja e o irmão dela estava ao meu lado, ele também não parecia interessado, estava lá como eu, por educação, obrigação, sei lá...
Saí da casa de Deus e não me lembro de mais nada, só da imagem do(a) morto(a) cantando.

Saturday, December 18, 2004

O velho que não via Deus, ouvia...

Ele tinha dois corações. Tinha nascido em 18 de janeiro de 1926, estava agora com 72 anos e não ligava mais para esse fato.
A imprensa o fotografou e ele, que trabalhava na roça, mostrava incrível saúde. Costumava dizer que amava demais e que aprendera a amar assim por causa de seus dois órgãos.
Alguns médicos queriam mandá-lo para os EUA alegando que só assim o senhor seria curado, porém outros diziam que não seria boa idéia tirar uma pessoa nessa idade dos seus parentes e de seu lar.
Desde jovem sentia os dois corações batendo, ora um, ora outro. Entretanto havia algo que o incomodava. De seu peito saía sangue e suas blusas sempre se manchavam. Lavava a região cerca de 4 vezes por dia e de nada adiantava, a leve hemorragia nunca estancava.
Só soube isso daquele senhor tão interessante. Porém o que mais me interessou foi quando ele disse ao homem que estava com ele no banco do ônibus.
- Sempre converso com Deus, eu não vejo ele, não. Eu apenas escuto.
E assim desceu do ônibus em direção ao hospital.
Então me lembrei de uma frase que certa vez ouvi: "Se você fala com Deus você é normal, mas se Deus fala com você é porque você é maluco".

Thursday, December 16, 2004

Fazendo Compras

Essa história é verídica, porém, para não difamar minha amiga dei-lhe o nome fictício de "Joana". Aí Vai:

Joana resolveu ir ao supermercado com uma amiga fazer as compras da casa. Estava Tranquila e observava alguns livros na prateleira, foi quando viu um livro que seu namorado iria adorar. Era um livro pequeno e ela achou caro demais para comprar. Olhou para um lado, olhou para o outro, não viu ninguém... e, num ímpeto, colocou o livro dentro da bolsa. Queria dar de presente de um ano de namoro, ficou contente de conseguir fazer aquilo. Sua amiga, enquanto isso, olhava outras coisas e nem pensou que Joana fosse capaz de fazer algo parecido. Pagaram e saíram do ambiente, numa boa, quando estavam já abrindo o carro e guardando as compras, um guarda do shopping chamou minha amiga e disse o seguinte:
- Você poderia me acompanhar?
- Onde você quer me levar? - Ela falou, já nervosa.
- Gostaria que você me acompanhasse até o supermercado, pois temos algo a te perguntar.
- Ah não, moço! Sempre me contam histórias horríveis de quem entra naquela salinha, não vou não!
Agora sou obrigada a fazer uma pausa. Como ela pode ter dito uma coisa dessas? Sinceramente...
- Não precisa ter medo, não sei quem te falou essa bobagem, ninguém vai fazer nada com você.
Ela foi, o que mais poderia fazer? A amiga dela ficou no carro sem entender direito, desconfiou mas pensou que não era possível.
Quando ela entra na "salinha" haviam três pessoas. Um homem que trabalhava lá pediu que ela esvaziasse a bolsa, dito e feito, o livro caiu e ele perguntou se ela havia comprado. Malcriada como ela só, respondeu que ele já sabia a resposta. Ele então perguntou se ela tinha dinheiro pra pagar o que tinha roubado:
- Claro que tenho! - respondeu
- e sua amiga? Não pegou nada?
- Deixe ela fora disso, ela nem sabe o que está acontecendo!
- Porém tenho que revistá-la também.
Nisso entra a Laura, escoltada pelo segurança, parecendo que estava sendo presa.
- O que você me dá se não tiver nada na minha bolsa? - perguntou
- Nada, só prova que é honesta.
Ela despejou tudo, sem medo, em cima da mesa. Joana ouviu mais meia dúzia de sermões, teve que comprar o livro e depois foram liberadas. Quando entraram no carro, o único comentário de Laura foi:
- Êh, Joana!
Você deve estar perguntando, afinal, que livro é esse tão precioso, bom, pode parecer mentira mas era o...

Wednesday, December 08, 2004

Cabo Frio - Carnaval/2001

Foi um desses carnavais em que você bebe, bebe, mas nada demais acontece.

Participantes:
Um casal com um filho de 3 anos
5 homens (meninos - idade média 19 anos)
2 mulheres (idade média 22 anos e meio)

É, compramos cerveja pra caramba, colocamos num galão com muito gelo e acendemos a churrasqueira numa varanda que cabia no máximo 2 pessoas, Cabo Frio fervia, 1 milhão de pessoas. Nós dentro de apartamento apertado, jogando truco, fumando e bebendo. Contando piadas de baixo nível, rindo, comendo até explodir! Até que um deles, o João, lembra-se de seu porta latas térmico e coloca 6 latas de cerveja e diz, vamos curtir esse carnaval! Saímos todos, já bêbados, havia um entre nós que não bebia, Rodrigo.

Chegamos na rua e aquela multidão de pessoas atormentava, gente feia e baixa. Eu e Patrícia tivemos vontade de fazer xixi e fomos a um barzinho, tinha que pagar pra ir ao banheiro, mas o dono do bar, muito simpático e interessado, deixa a gente ir de graça.

Paschoal e Thiago inventam de comprar aquela porcaria de espuma, aquele spray. Foi aí que tudo começou... De repente alguém começa, e a guerra está anunciada! Fazemos barba e cabelo de espuma no Joãozinho, Patrícia de longe morre de ri, mas alguém vêm e joga espuma em sua boca, calando-a imediatamente. O dono do bar, todo "bem" intencionado, fala pra meu amigo:
- Ela está comigo!
Ele responde:
- Que com você o quê, mane! Ela está é comigo!
Olha pra mim com olhar ameaçador e pensa: “Se ela falar que está com ele, amanhã eu a mato!”
Fico calada. Acertam meu cabelo, olhos, orelhas, tudo mela. Apelo e jogo numa pobre coitada que eu nunca tinha visto e que era amiga do fresco que não bebia nada. Digo fresco não porque não bebia, e sim porque era mesmo. Pela primeira vez a multidão abre uma roda em torno de nós, ninguém queria se sujar, apago o cigarro do Anderson com a espuma. E a guerra continua até que um de nós corre em direção a praia e entra no mar pra se limpar, todos o seguimos, todo mundo entra, eu tento apenas lavar o rosto e o cabelo, alguém me puxa, me joga de roupa e tudo! Saímos do mar e fomos direto pro apartamento. Algum deles voltou só de cueca, estava com uma cueca preta, ninguém percebeu. Tentei lavar o vestido quando cheguei, tomei um banho e fomos dormir.
Dia seguinte, boca seca, sinto melada, o banho não adiantou muito. Pego a embalagem do spray e começo a ler... resolvi ler em voz alta e dizia mais ou menos assim:
Precauções:
• Use a no mínimo a 1m de distância da pele.
• Não atingir as mucosas (boca, nariz, ouvido...)
• Não utilize perto de chamas, risco de explodir

Só faltava dizer pra não usar no carnaval...

Tuesday, December 07, 2004

Mesmo sabendo que a vida nos engana, mesmo sabendo que a Opala não é plana...

"Quando eu disse a ela que o amor passou
A cidade levemente flutuou
Ondas amarelas na Contorno cheia
A cidade simplesmente me odeia"

Um casal de amigos meu terminou o namoro. Hoje, pela manhã, ouvi essa música e achei muito parecida com a situação deles. Porém não vou falar sobre eles, e sim de como é difícil terminar um relacionamento de muitos anos, seja um casamento, um namoro ou mesmo uma amizade.

O que fazer quando alguém já não corresponde a suas expectativas sobre um relacionamento? Devemos afastar ou devemos tentar o diálogo? Tive um amiga de muito anos e de repente, olho para o lado, e cadê? Não sei! Mesmo parecendo frieza, não senti sua falta antes, se tivesse sentido acredito que não teria chegado a esse ponto. Me desculpe, amiga, se você estiver lendo isso, é apenas um desabafo! Claro que fiquei chateada, claro que gostaria que tudo fosse como antes, mas mudamos e nem sabemos o porquê. Acredito que a vida seja feita de encontros e desencontros, sendo eles em horas adequadas ou não. Se o interesse acaba, se já não há mais motivos para seguir juntos, pra que continuarem amigos? Poderia dizer milhões de coisas aqui, coisas que a deixaria magoada, mas não posso, não quero.

Pensei também na morte, a morte das pessoas vem na hora certa ou errada pra nós também. Um amigo que não se vê há muito tempo morre, ficamos tristes, chateados, mas não sofremos tanto como as pessoas que têm um convívio frequente com ele. Acredito que se o Sérgio morresse hoje, eu sofreria menos, mas quando ele morreu aquilo foi a coisa mais difícil que já enfrentei, qualquer término de namoro fica fácil perto dessa situação.

Me tornei com o passar do tempo uma pessoa muito independente, com opnião muito bem formada e com personalidade forte. Pessoas assim nem sempre são bem vindas, principalmente entre pessoas que não precisam pensar, que já têm, de certa forma, as coisas prontas para serem usadas. Não me vanglorio de minha personalidade, mas a aceito e a admito como sendo eu. A verdade é que durante a adolescência e início da vida adulta queremos muito agradar, queremos andar na moda, não andamos muito na contramão... e eu não, sou defensora dos mais fracos, ando sempre na contramão da vida e não gosto de pessoas que seguem a corrente sem saber pra onde estão indo, vivem às cegas achando que não sofrerão. Talvez a pessoa inconsciente sofra bem menos, ela não questiona, não luta. Porém prefiro a dor, prefiro a reflexão, são elas que me fazem evoluir. Não esperem que eu "puxe o saco" de alguém que isso é a última coisa que irei fazer!

"O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa".

Monday, December 06, 2004

Sim! Sou cantora!

Ontem foi um dia muito especial pra mim. Foi a primeira vez que cantei em público, tirando alguns barzinhos ou festas de amigos. Mas dessa vez foi diferente, muitas pessoas me assistindo, pessoas diferentes e um palco! Achei que ia ser difícil, que ia ter vergonha. Bom, confesso que a princípio eu fiquei tremendo, muito preocupada com a impressão que iria passar. Quando vi que eu já estava lá em cima, que poucos tem coragem de chegar lá e que eu era igual a qualquer um da platéia, aí eu relaxei e cantei como se estivesse dentro de casa, ou com minha professora de canto, sei lá!
Não dá pra descrever a sensação, às vezes meu coração palpitava acelerado, eu arrepiva, as pessoas aplaudiam... O mais difícil é o aplauso, pois a gente não sabe o que fazer... Eu ficava sem graça, agradecia...
Depois vou colocar as fotos, não estou com a câmera aqui...
Só pra terminar com Fernando Pessoa:
"Vêm-me saudades de ter sido Deus"

Friday, December 03, 2004

Já que todos gostam...

Não sei no que vai dar, mas resolvi criar um blog também... milênios depois. A questão é: "será que quero me expor dessa forma?", "será que não estarei perdendo mais tempo do que já perco?". Bom, se não gostar eu apago, mudo, sei lá.
Ando lendo muito Fernando Pessoa e tenho me apaixonado por suas poesias. Não imaginava que iria gostar tanto. Inclusive o título do blog foi colocado em homenagem a ele, que diz em uma de suas poesias:

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada".

Ando me envolvendo com problemas interiores muito complicados, e eu que quero complicar. Gosto de pensar na vida, de refletir minhas atitudes, de mudar a todo instante.

Ontem fui à missa de formatura de um amigo (detesto missa), e foi no mesmo lugar onde foi a missa de 7º dia de um amigo que perdi. Quando saí da missa, fomos para um barzinho e acabei encontrando uma amiga minha que também era amiga dele. Gostei muito de ter encontrado com ela, fomos boas amigas naquela época e acabamos perdendo o contato por vivermos de forma muito diferente. Ela estava bonita, emagreceu muito (ela era gordinha), e eu fiquei muito feliz de vê-la bem. Quando dormi sonhei com ela me dizendo que o Sérgio não tinha morrido, que ele estava vivo durante todos esses anos, não sabia se ficava feliz ou com raiva... eu dizia a ela: "Mas Dani, não é possível! Eu fui ao enterro dele, eu vi o corpo! Ele morreu sim!".

Quando acordei fiquei pensando... Ela tinha razão no sonho, ele não morreu, apenas mudou de estado... evaporou!