Thursday, January 10, 2008

O calor que fazia naquele verão era de derreter, de não lhe dar possibilidades de pensar em outra coisa. A fraqueza e o maldito cigarro, ele não largava o vício. A fraqueza da carne, em todas as dimensões, ela o fazia perder todo o moral. Moralista? Não era. Apenas fingia amar. Mas na verdade corria do amor pelo caminho avesso. Fugir do amor, amando. Não era a melhor maneira, mas era a maneira mais fácil de escapar. Fidelidade? Claro que não... Mas acreditava na fidelidade da esposa. Todos acreditam. Os infiéis são incapazes de se imaginar sendo traídos, dói. Sendo trocados por outro. Não queria imaginar que ela o traía nem em pensamento. E o que é a traição? O que é o amor? É palpável? Eu torcia para que ela o traísse e que ele nunca soubesse. Que gemesse na cama com outro... Torcia e ainda torço. Ela sendo lambida, inteira, por outro. Ele sem saber. Ela imaginando o outro na cama com eles, sem nunca dizer nada. Ele fazendo filhos, tendo amantes, mas mantendo esse desamor a todo custo. Quase sufocado por ele, quase não vivendo outro amor que não o desamor por ela. Apaixonadamente desapaixonado, rasgando a outra com sua língua felina, apertando a outra com suas mãos intensas, mas sem amor, o amor não lhe serve.

Naquele dia ele se encantou por mim, mas era tudo carnal. Não tinha paixões ou amores por outra mulher, só desamava de verdade sua esposa, só ela merecia seu desamor. Só confiava nela, só com ela podia contar. Tentou me seduzir, estava cansado de todas aquelas que encontrava às vezes. Sempre tão previsíveis, tão carentes. Intrigava a independência do seu atual objeto de desejo. "Não, ela não pode ser tão livre." Só que eu sei que se acontece perde a graça, gosto de alimentar o desejo, o mais torpe desejo, alimentar, alimentar, nunca ceder... Não é a toa que a mulher é mãe, tem prazer em alimentar. E não é a toa que o desejo some quando se está saciado. A mulher prende pelo alimento, o homem lhe escapa pelo desejo.

2 comments:

Eros said...

Oh Lorão, não te imaginava assim tão feiticeira. :) Mas brincadeiras à parte, adorei e muita verdade no que disse, é que o misterioso e o desconhecido tem uma áurea de sedução praticamente irresistíveis. Pelo menos aos olhos dos sentidos.

R. said...

Sem suspense, qual a graça nos próximos capítulos da vida real?

:)