Patrícia e Gustavo eram namorados daqueles que brigam por tudo. Qualquer coisa era motivo pra sair batendo a porta, chorar, gritar, bater, desligar o telefone na cara. Parecia romance de novela mexicana, bem tragicômico. Só que teve um dia que foi mais cômico do que trágico. Gustavo fez 18 anos dez meses antes de Patrícia, e foi logo tirando carteira de motorista. Quando ela antingiu a maioridade, ele indicou seu instrutor, dizia que era um bom profissional. Bom, aquele dia, em que Patrícia começaria a fazer as aulas de direção, era um dia especial, formatura de uns amigos, ia ser um festão. E ela estava com as horas contadas, tal horário seria a aula, depois academia, depois salão e depois a festa.
Bom, tomou seu banho como de costume e foi aprender a dirigir. Assim que entrou no carro o instrutor falou:
- Prazer em conhecê-la! Mas nossa, você é bonita! O Gustavo disse que não era...
- Ele disse isso?
E fez a aula com tanto ódio e pensando em matar o Gustavo! "Como assim, fala pros outros que a namorada é feia? Se sou feia, por que namora comigo? Ah, mas ele me paga, vou brigar demais". E assim foi, nem prestou atenção na aula, só queria saber de brigar com o namorado.
Bom, sei que eles brigaram muito e ela foi pro salão. Fez um penteado e uma maquiagem e ficou esperando o Gustavo chegar pra eles irem pra festa. Acontece que ele combinou de chegar 9 da noite e só apareceu quase 11. Ela já estava com ódio mortal, estava com vontade de dormir, mas o penteado a atrapalhava, pensou em tirar o vestido e tomar um banho, mas resolveu esperar e esperar e esperar.
Enfim ele chegou e foram pra festa discutindo, aos berros, mas com certa classe pra não estragar a maquiagem e o vestido. Ao chegarem na festa ficaram entre os amigos, era um apagando fogo daqui, outro de lá. "Ele não queria dizer que você é feia, você não é feia, ele só não queria fazer propaganda", dizia um amigo. Mas ela estava resistente, queria brigar, queria chamar a atenção do namorado de qualquer maneira. Bom, não resolveram a questão na festa, mas ela bebeu bastante, tomou um porre de uísque importado. Ele voltou dirigindo e ela começou a fazer charminho:
- Ai, estou passando mal, acho que bebi demais.
- Passando mal?
- É, estou mal, acho que vou vomitar
Era tudo mentira, mas Gustavo tinha acabado de ganhar o carro dos pais, dizem por aí que brasileiro é apaixonado por carro. Faltava um quarteirão para deixar Patrícia em casa, mas ele desesperou, ela ia vomitar no carro dele. Entraram na rua Ceará, ele deu uma freiada brusca, saiu do carro, e ela sem entender nada:
- Quê isso Gustavo?
Ele abriu a porta do passageiro.
- Você vai me deixar aqui na rua? - disse assustada.
- Ponha as pernas e a cabeça pra fora! Você tem que vomitar.
- O quê?
- Fica quieta, menina, você está falando demais!
- Eu que falo demais?
E aumentaram o volume da voz...
- Vou enfiar o dedo e você não tira!
- Não quero!
- Vou enfiar!
- Tá doendo!
- Mas é pro seu bem, vou enfiar, não tira!
- Não quero, Gustavo!
De repente, na casa da esquina, uma janela se entreabre, só uma gretinha, e eles escutam a voz rouca de uma velhinha:
- Seeeeeuuuussss pornográficos! Não vê que a menina não quer?
(Qualquer semelhança com a realidade é mera realidade mesmo.)
1 comment:
Ah sim, agora posso comentar. Pena que já esqueci o que queria dizer. Mas que a história é bem boa, isso é.
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