Friday, May 25, 2007

Insuportável

Se da boca lhe saíssem palavras doces, mas ela era só ironia e amargura. Amargura essa que a fazia inchar. Não conseguia saber o que lhe faltava, então comia para preencher o vazio. Cada vez mais gorda, cada vez comia mais. Tornava-se mais feia, mais rejeitada, comia mais um pouco então. Não bebia, talvez se bebesse seria melhor, ou então ela ficaria tão chata que nem ela mesma se suportaria.

Saturday, May 19, 2007

Pornografia na Rua Ceará.

Patrícia e Gustavo eram namorados daqueles que brigam por tudo. Qualquer coisa era motivo pra sair batendo a porta, chorar, gritar, bater, desligar o telefone na cara. Parecia romance de novela mexicana, bem tragicômico. Só que teve um dia que foi mais cômico do que trágico. Gustavo fez 18 anos dez meses antes de Patrícia, e foi logo tirando carteira de motorista. Quando ela antingiu a maioridade, ele indicou seu instrutor, dizia que era um bom profissional. Bom, aquele dia, em que Patrícia começaria a fazer as aulas de direção, era um dia especial, formatura de uns amigos, ia ser um festão. E ela estava com as horas contadas, tal horário seria a aula, depois academia, depois salão e depois a festa.

Bom, tomou seu banho como de costume e foi aprender a dirigir. Assim que entrou no carro o instrutor falou:

- Prazer em conhecê-la! Mas nossa, você é bonita! O Gustavo disse que não era...
- Ele disse isso?

E fez a aula com tanto ódio e pensando em matar o Gustavo! "Como assim, fala pros outros que a namorada é feia? Se sou feia, por que namora comigo? Ah, mas ele me paga, vou brigar demais". E assim foi, nem prestou atenção na aula, só queria saber de brigar com o namorado.

Bom, sei que eles brigaram muito e ela foi pro salão. Fez um penteado e uma maquiagem e ficou esperando o Gustavo chegar pra eles irem pra festa. Acontece que ele combinou de chegar 9 da noite e só apareceu quase 11. Ela já estava com ódio mortal, estava com vontade de dormir, mas o penteado a atrapalhava, pensou em tirar o vestido e tomar um banho, mas resolveu esperar e esperar e esperar.

Enfim ele chegou e foram pra festa discutindo, aos berros, mas com certa classe pra não estragar a maquiagem e o vestido. Ao chegarem na festa ficaram entre os amigos, era um apagando fogo daqui, outro de lá. "Ele não queria dizer que você é feia, você não é feia, ele só não queria fazer propaganda", dizia um amigo. Mas ela estava resistente, queria brigar, queria chamar a atenção do namorado de qualquer maneira. Bom, não resolveram a questão na festa, mas ela bebeu bastante, tomou um porre de uísque importado. Ele voltou dirigindo e ela começou a fazer charminho:

- Ai, estou passando mal, acho que bebi demais.
- Passando mal?
- É, estou mal, acho que vou vomitar

Era tudo mentira, mas Gustavo tinha acabado de ganhar o carro dos pais, dizem por aí que brasileiro é apaixonado por carro. Faltava um quarteirão para deixar Patrícia em casa, mas ele desesperou, ela ia vomitar no carro dele. Entraram na rua Ceará, ele deu uma freiada brusca, saiu do carro, e ela sem entender nada:

- Quê isso Gustavo?
Ele abriu a porta do passageiro.
- Você vai me deixar aqui na rua? - disse assustada.
- Ponha as pernas e a cabeça pra fora! Você tem que vomitar.
- O quê?
- Fica quieta, menina, você está falando demais!
- Eu que falo demais?

E aumentaram o volume da voz...

- Vou enfiar o dedo e você não tira!
- Não quero!
- Vou enfiar!
- Tá doendo!
- Mas é pro seu bem, vou enfiar, não tira!
- Não quero, Gustavo!

De repente, na casa da esquina, uma janela se entreabre, só uma gretinha, e eles escutam a voz rouca de uma velhinha:

- Seeeeeuuuussss pornográficos! Não vê que a menina não quer?

(Qualquer semelhança com a realidade é mera realidade mesmo.)

Thursday, May 17, 2007

É uma pena!

Chegou ao encontro, era um encontro a três, mas nada de amor, eram colegas de sala e faziam parte de um grupo. Dois chegaram antes, enquanto ela não vinha. O trânsito em Belo Horizonte anda complicado nesse horário, ainda mais na Av. Afonso Pena. Duas mulheres e um homem, mas por enquanto só um homem e uma mulher. A primeira mulher pergunta sobre a ex namorada. Ele diz que acabou mesmo, que se apaixonou por outra, mas que a outra tem namorado.
- Ah! Complicado... Eu acho difícil separar um casal. – diz ela.
- Que nada! Quando é assim, quando a mulher dá entrada, se você quiser, basta fazer o que ele não faz.
- Será?
- Claro!
- Mas você e sua ex não rola mais nada?
- Ela quer voltar... uma pena, não dá, estou mesmo apaixonado. Só que a outra não quer nada comigo... Também, daqui uns dias vou deixar de vê-la.
- Por quê?
- Digamos que ela é da sala...
- Ah, já tinha percebido...
- Né?

Então ela chegou, eles faziam o trabalho tranquilamente. A outra pensando nos dois: "será que daria certo? Será que ela largaria seu namorado do interior pra ficar com ele? Ela tem a boca tão gostosa... boquinha linda, sempre reparei... Ele está olhando pra boquinha dela, descaradamente. Ela nem percebe! Ou será que finge? Eu não posso olhar, ai que inveja"
E ele solta um suspiro e diz:
- É... é uma pena...
- Uma pena...

Wednesday, May 16, 2007

Morrer?

Morrer é dormir sem sonhar.

Friday, May 11, 2007

Maio, Maio, Maio

É maio em Belo Horizonte, maio, maio, maio é
Feito frio vento voarei, maio
Filmes rápidos, plágios sonharei
Sempre dispenso a esperança
Contente com a lentidão de um lugar
Que a ventania deste mês sacoleja, modifica e lança
É maio
Maio, maio, maio, maio é
Maio
Sonho sonho sonho sonharei
Talvez um monstro em maio me assuste
Porém o tempo, o devorador
Já sabe que sou em quem o degusta
Maio
E me
Sento
No chão
Olho para a Serra do Curral
Sem nem
Lembrar
Quem foi que num verão cruel
Veio, passo a passo
E seqüestrou meu coração
Mas não levou o céu
Que avisto aqui do chão

* Composição Maio, Maio, Maio de João Bosco/ Antônio Cícero / Waly Salomão. Descaradamente adaptada por Raquel para caber à realidade de Belo Horizonte.

Friday, May 04, 2007

Musiquinhas que meu pai cantava pra mim.

"Fui certa vez na casa de um japonês
E o japonês tacou cigarro no chão
A japonesa começou a reclamar
E o japonês pôs a mão no cinturão
E disse então
- Kataí, Kataí, Kataí, Katá, Kataí, Kataí, Kata, Kata, já
- Tumimanda katá, tumimanda katá, japão, kataítu, kitukitakou no chão!"

Tinha uma que ele perguntava e eu respondia:
"- Menina, tu tá comendo vridro?
- Não pai, tô chupano é preda d'água"

E tinha a introdução do hino nacional:

"Laranja da china, laranja da china, laranja da Chi-na
Abacate, limão doce e tangerina
Quando eu morrer, quero uma cova bem funda
pro tatu não beliscar a minha bunda"

'Tinha aquela clássica também:
"Papai, eu quero me casar!
- ô minha filha, você diga com quem.
- Eu quero me casar com o leiteiro.
- ô minha filha, você não casa bem.
- Por que, papai?
- O leiteiro tira o leite da vaca, e depois vai tirar docê também"

E eu amava essas musiquinhas!